sábado, 7 de fevereiro de 2009

Júniores: Uma temporada atribulada


Depois de uma época algo atribulada onde, apesar de juntar duas das melhores gerações da formação benfiquista (89 e 90) dos últimos largos anos, os resultados não foram muito positivos e nem o talento de jogadores André Carvalhas, Miguel Rosa ou Orpheé Demel permitiu alcançar o tão desejado título, a política do Benfica face à equipa de juniores mudou bastante.

Contrapondo com a época anterior, em que se apostou, sem grande critério e em fases decisivas da temporada, em jogadores estrangeiros de qualidade duvidosa (Guido, Wagner, Rodrigo) ou de boa qualidade mas para posições pouco carenciadas (o melhor exemplo é Abdoulaye Fall) o Benfica procurou ser mais criterioso nas contratações, preferindo apostar em jogadores nacionais, mais identificados com a grandeza do clube e com o futebol português no geral.

A tal facto não será alheia a entrada de Rui Costa para director desportivo dos seniores, o que permitiu que muitos juniores e ex-juniores participassem na pré-temporada de Quique, tendo demonstrado sempre o antigo camisola 10 dos encarnados uma enorme sensibilidade para as camadas jovens, acompanhando muito de perto a evolução das jovens promessas benfiquistas.

Assim, transitaram do plantel do ano anterior Diogo Freire, Abel Pereira, João Pereira, David Simão, Leandro Pimenta, Ishmael Yartei e André Soares. Foram promovidos apenas 5 campeões nacionais de juvenis: Nélson Oliveira, Saná, Diogo Figueiras, Roderick Miranda e Adul. Quanto a caras novas, destacou-se o regresso de Pedro Eugénio, após um ano de empréstimo ao Farense e a aposta no mercado nacional: Pedro Miranda (ex-Odivelas), Danilo Pereira (ex-Estoril), Ivanir Rodrigues (ex-Real) e Hélio Vaz (ex-Montijo) reforçaram os quadros da equipa que continuava a ser liderada por João Alves, integrando agora também a antiga glória encarnada Bastos Lopes na equipa técnica. A contratação do antigo extremo do Porto, José Alves “Coelho” ao Inter de Milão, após uma dura batalha legal com os portistas, era a aquisição mais sonante deste plantel. De estrangeiros veio apenas Billa, um rápido avançado que acabou por ser inscrito quando o campeonato já decorria.

Desde logo começou a polémica. Num plantel relativamente curto e algo desequilibrado, muita estranheza causaram as dispensas de alguns juvenis como André Campos, Fábio Pereira, Toumany, Abdel Vieira ou Artur Lourenço. E o tempo veio dar razão a estas críticas. Mas já lá vamos.

A época começou com o Benfica a mostrar-se ainda pouco “oleado” mas a conseguir ir amealhando algumas vitórias importantes, o que lhe valeu desde muito cedo a liderança do campeonato. As deslocações vitoriosas a Setúbal (1-3) e à Reboleira (0-3), bem como a vitória caseira face ao Belenenses (2-1) motivou bastante a equipa e só uma derrota inesperada no Seixal frente ao Real (1-2) impediu um princípio de época a roçar o perfeito em termos de resultados.

Contudo, com o início da Liga Intercalar, que supostamente serviria para alguns destes jovens mostrarem atributos junto de jogadores do plantel principal (mas que cedo se percebeu ser uma competição quase exclusivamente para juniores), cedo se percebeu que o plantel era demasiado curto para andar a fazer jogos à quarta e ao sábado, com muitos encontros da selecção pelo meio.
Por esta altura, o Benfica teve que se deslocar a Alcochete para defrontar o eterno rival Sporting e acabou por alcançar um empate que soube a muito pouco, dado que os encarnados estiveram a ganhar a maior parte do jogo (graças a um tento de David Simão), tendo permitido o empate leonino já em tempo de compensação.

Ainda assim, e apesar duma derrota no sempre complicado terreno do Nacional, o Benfica conseguiu dobrar a primeira volta na liderança do campeonato. Contudo, após o regresso das férias do Natal, as coisas começaram a correr menos bem à turma encarnada. Com o plantel algo desfalcado com lesões e baixas de forma em jogadores influentes, o Benfica parecia cada vez mais dependente de David Simão, autor de muitos golos decisivos. Contudo, o habitual capitão não chegava para todas as encomendas e, neste período de menor fulgor o Benfica permitiu empates face ao Setúbal e ao Estrela (em casa) e em Belém, tendo caído para o terceiro lugar do campeonato atrás de Belenenses e Sporting.

E é neste lugar que a equipa se encontra, praticamente proibida de perder pontos sob pena de ver os dois rivais distanciarem-se irremediavelmente, tendo o derby contra o Sporting, em Março próximo, um carácter, se não decisivo, certamente bastante importante.
Respondendo aos apelos de João Alves que, perante uma elevada quantidade de lesionados, muitas vezes teve que recorrer a juvenis para compor o banco de suplentes, a equipa viu-se reforçada neste mercado de inverno com a aquisição de Mário Rui, um lateral esquerdo ex-Valência internacional português, bem como de 2 brasileiros: Adriano (ponta de lança) e Fagner (médio).

De novo se trouxe à baila a questão polémica das dispensas dos juvenis no final da época passada. Tratando-se ainda por cima de jogadores campeões nacionais e de inegável valor, não se compreende a sua partida, tendo em conta que, algum tempo depois, se constatou o quão curto era este plantel.

Analisando os jogadores mais ao pormenor: Diogo Freire e Pedro Miranda têm partilhado a baliza, ainda que o último pareça ter agarrado o lugar nas últimas partidas. Ambos já fizeram boas exibições e tiveram falhas comprometedoras, sendo, no cômputo geral, bastante equivalentes entre si. Na lateral-direita, o titular natural é Pedro Eugénio. Contudo, as lesões têm perseguido o jovem defesa e, apesar de algumas excelentes exibições, tem alternado a titularidade com o banco e com a enfermaria. Nesse posto muitas vezes tem sido utilizado Diogo Figueiras, uma espécie de “pau para toda a obra” no plantel benfiquista que começou a temporada como extremo mas, face às lesões, fez valer a sua polivalência e actuou muitas vezes como defesa direito e, por vezes também, como lateral-esquerdo. Também Tiago Ribeiro e Bakar (juvenis) já foram chamados para ocupar esta posição.

Na esquerda, pensava-se que o lugar seria facilmente de Ivanir. Contudo, as lesões têm traído o ex-Real Massamá e dificultado a sua afirmação no Benfica, tendo sido a maior parte das vezes ocupado este posto pelo experiente, mas adaptado João Pereira.

No centro, Abel Pereira desde cedo se afirmou como indiscutível, estando o outro posto normalmente entregue a Roderick, um central de primeiro ano com impressionante estampa física (com muitas semelhanças físicas com Carlos Mozer) que tem mostrado que é um valor com quem contar num futuro próximo. João Pereira, apesar de muitas vezes adaptado à lateral, também foi jogando por vezes na sua posição natural.

No meio-campo, os nomes de Leandro Pimenta e David Simão são incontornáveis. Se o primeiro tem feito uma temporada muito regular e acertada (ainda que por vezes fora de posição) o camisola 10 tem sido o jogador mais decisivo da equipa, sendo o melhor jogador e goleador desta primeira parte da época. Outra boa surpresa foi a ascensão de Danilo que, timidamente, foi surgindo no meio-campo benfiquista e ganhando aos poucos o seu lugar. Saná, outro dos médios encarnados e um daqueles a quem todos auguram um brilhante futuro, tem tido uma época um pouco aquém das expectativas, saindo um pouco prejudicado do facto de João Alves insistir em colocá-lo fora da sua posição natural. Ishmael Yartei que tem dado o seu contributo à equipa de forma intermitente (ora por lesões, ora por chamadas à selecção do Gana, ora por problemas burocráticos) é também uma das claras mais valias da intermediária benfiquista, sendo um dos jogadores mais chamados para treinar com os seniores.

Nas bandas, Coelho e André Soares, dois bons valores do plantel benfiquista têm desiludido um pouco, alternando boas exibições com prestações fracas, mostrando muitas vezes bastante inconsequência. Lá na frente, Nélson Oliveira tem sido quase sempre o avançado escolhido mas é também uma das desilusões da época, estando longe do jogador que mostrou ser nos juvenis, que motivou chamadas aos séniores e à selecção de sub-21 estando a atravessar uma crise de confiança que o tem afastado dos golos.

Adul, por seu lado, apesar de quase sempre remetido para a condição de suplente, foi “talismã” em muitos jogos, apontando golos decisivos. Hélio Vaz e Billa, apesar de alguns bons apontamentos esporádicos, poucas oportunidades tiveram para mostrar qualidades.

João Alves, um treinador um pouco “diferente” daquele que fez naufragar a talentosa equipa de 2007/2008, fez por tentar melhorar em certos aspectos da sua postura. Contudo, algumas opções tácticas, com a colocação de jogadores fora de posição ou a opção por substituições antes da meia-hora de jogo, bem como a “desevolução” de algumas das pérolas deste plantel como Saná ou Nélson Oliveira, continuam a fazer torcer o nariz a muitos seguidores desta equipa de juniores.

E ainda há a rábula da braçadeira. Habituados a ver um capitão incontestável, como o foi em passados recentes Miguel Victor ou Rosa, este ano a braçadeira tem passado de braço em braço, sendo normalmente de David Simão ou João Pereira, mas também já tendo passado por Leandro Pimenta, Abel Pereira ou mesmo o recém-chegado Coelho!

É certo que ainda falta muito campeonato mas este plantel deve, desde cedo, habituar-se à exigência de fazer parte do Universo Benfica. Esta época tem sido marcada por momentos bons, alternados com alguns de menor qualidade e fulgor. Mas está longe de chegar ao excelente que a qualidade deste plantel e a exigência de vestir o “manto sagrado” reclamam por direito. Esta equipa tem mais que futebol para, com humildade e ambição, etapa a etapa, conquistar o direito de estar na fase final e, perante as melhores equipas nacionais, impor o seu futebol e sagrar-se campeã nacional da categoria. Ou pelo menos dar o que se tem e o que não se tem para esse objectivo.

No Benfica não pode existir mediania ou vitórias morais. E quem carrega o símbolo do Glorioso ao peito tem que estar consciente e orgulhoso da responsabilidade que isso representa. E, mais que ganhar, temos que saber formar jogadores que, a exemplo do seu companheiro Miguel Vítor, saibam vir a ser úteis para o futebol profissional do Benfica. Essa é a grande missão dos escalões de formação. E todos aqueles que, no final desta época, sigam outros caminhos para o seu futuro, saiam do Caixa Futebol Campus formados como jogadores de futebol e como homens. E nunca esqueçam a sagrada divisa desta casa: Et Pluribus Unum.

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