Ser ou não ser, eis a questão…

“Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e setas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
Ou insurgir-nos contra um mar de provocações
E em luta pôr-lhes fim?”

"A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca", de William Shakespeare.

Atentem a este excerto da peça “A tragédia de Hamlet”, de William Shakespeare. Aquilo que vos peço, no inicio desta crónica é que puxem um pouco pela vossa imaginação, tal como eu fiz. Então imaginem o seguinte: Luís Filipe Vieira, fechado num quarto, com uma ‘caveira’ na mão e a colocar a mesma questão que está no excerto, supra citado. Estranho, não? E também difícil de acontecer, porque Vieira dificilmente se questionou sobre a nobreza do gesto de antecipar a luta “contra o mar de provocações”, isto na minha óptica.

Mas se ele não tivesse tomado essa decisão, a esta altura do campeonato em vez de estarmos a falar, e sermos falados, acerca da liderança no Benfica, estaríamos a ter discussões sobre produtos hortícolas, com especial incidência sobre as cenouras. É sempre bom (!) no defeso discutir outras coisas que não a qualidade e calibre de uma leguminosa! Valha-nos isso ao menos!

Com esta história das eleições, há outro factor a salientar. Na passada semana, conseguimos ter uma maior percentagem de tempo de antena, através de directos e entrevistas, do que Vitor Constâncio quando foi à Assembleia da República para ser inquirido sobre o caso BPN, ou mesmo, Manuela Ferreira Leite, após a vitória nas Eleições Europeias. É obra! Sinto-me orgulhoso, com a média de um directo e uma entrevista por dia, quase… Ou não!

Mas vamos ao que interessa. Esta semana começaram então a perfilar-se os candidatos ao “trono real”, desculpem, à presidência do Benfica.

Vieira foi o primeiro, como seria de esperar. O “Movimento Benfica Vencer, Vencer” apresentou, logo no dia seguinte, a sua intenção de ir a votos, mas a falta de um nome que liderasse a lista, devido ao “não” de José Eduardo Moniz, levou-os a fazer uma retirada estratégica, como se de um “até já” se tratasse. Veremos em 2012 se aparecem novamente. No dia seguinte foi Bruno Carvalho, também conhecido como o-candidadato-que-quer-ser-candidato-mas-que-parece-que-não-tem-as-condições-para-o-ser, a apresentar a sua intenção de ir a sufrágio, e fê-lo de uma forma, no mínimo, direi, original. No final da semana, surgiu mais um nome como possível candidato à presidência, Carlos Quaresma, que já em 2006 havia tentado a sua sorte, mas alguns problemas de última hora, levaram a que a sua candidatura tivesse sido rejeitada.

Agora, vamos por partes, analisar estes candidatos e “candidatos a candidatos” à presidência do Benfica. Comecemos por Vieira, que após 8 anos ligado à estrutura do Benfica, como director desportivo e, mais tarde, presidente, decide ir novamente a votos “após consultar a sua família”, podendo, se ganhar, tornar-se no primeiro presidente do Benfica a ficar 9 anos seguidos em exercício do cargo. Mas o que fez Vieira de tão significativo que o leva a ter o apoio que, possivelmente, o levará a um terceiro mandato consecutivo? Em termos de futebol profissional, o “core-business”do clube, muito pouco. Se num primeiro mandato ainda conseguiu alguns títulos importantes, que o fizeram ganhar, justamente na minha opinião, o direito a um segundo mandato, nesse segundo mandato, conseguiu fazer asneira atrás de asneira, que nos levou a 3ºs lugares e um, vergonhoso, 4º lugar. E títulos? Só a “Taça da Liga” este ano. Muito pouco para o comum dos adeptos e em sufrágios anteriores, dificilmente Vieira ganharia, mas dada a concorrência, ou a falta dela, derivado da sua “jogada estratégica” de antecipação do acto eleitoral, essa vitória é quase garantida. Mas como o clube não é só futebol, os “Vieiristas”, como os seus apoiantes já são apelidados, falam também do Estádio e de todo o complexo desportivo adjacente, erradamente, porque foi pela mão de Mário Dias, vice-presidente do Benfica no tempo de Vilarinho, que se construiu a “nova Catedral”. Falam também do Centro de Estágio, da valorização e títulos conquistados nas modalidades, da aposta nos sócios, do reequilíbrio das finanças do clube (!), da aposta na formação, enfim, uma série de argumentos, alguns deles que são facilmente rebatíveis e questionáveis, principalmente no que concerne às finanças do clube. Não percebo como as contas estão equilibradas se o passivo aumentou para o triplo (!) desde que Vieira é presidente e os capitais próprios tem vindo a diminuir em "catadupa"… Mas isso, devo ser eu que não percebo nada disto!

Ainda em relação a Vieira, referir que tem como mandatário o "nosso bem conhecido" Fernando Seara, presidente da edilidade de Sintra, e na sua lista há uma novidade, a saída de Manuel Vilarinho da presidência da Assembleia-Geral, sendo substituído por Luis Nazaré. Gostaria de falar sobre o projecto que Vieira tem para o Benfica, ou aliás, que diz ter deste à 6 anos a esta parte e que o faz estar no clube com “um espírito de missão”, mas o que é certo é que ao fim de 6 anos ainda não vi nada, a não ser “novos ciclos”. Devo andar distraído! Espero apenas que este “novo ciclo”, não nos traga mais 3ºos e 4ºos lugares, porém, temo o pior… Mas adiante!

Falando agora do “Movimento Benfica Vencer, Vencer”, vou tentar ser tão breve, quanto a intenção do mesmo ir a votos. Apresentaram-se na passada terça-feira no Hotel Sheraton, em Lisboa, com a sala cheia de ilustres benfiquistas. Desde Veloso até José Augusto, passando por Mozer, todos passaram por lá para dar o seu apoio ao Movimento. As ideias apresentadas eram muito boas, tendo ainda conseguido identificar o grande problema do Benfica, que é, como referiram, única e exclusivamente de liderança. E foi um problema de liderança, ou a falta de um líder para a lista, que se veio a revelar fatal para o Movimento, que, depois de sondar José Eduardo Moniz e este ter recusado o convite, se viu obrigado a “bater em retirada”, com muita pena minha, visto que a falta de candidatos e projectos alternativos para ir a sufrágio, revela um pouco a "pobreza" a que este Benfica está votado.

Agora, Bruno Carvalho, o-candidadato-que-quer-ser-candidato-mas-que-parece-que-não-tem-as-condições-para-o-ser. Apresentou a sua candidatura se uma forma no mínimo “sui generis”. Com tiques de “novo-riquismo”, fretou um avião da TAP, ao qual chamou “Eagle One” para dizer que vai a votos. Genial e corajoso, depois dos últimos acontecimentos relacionados com a aviação! A bordo do "Eagle One" também apresentou o seu projecto, que está disponível para consulta no seu site de campanha e um vídeo que, na sua óptica, demonstra o que é o Benfica de hoje. Podem ver...

Um pouco faccioso e "estranho" o vídeo, isto para não chamar outra coisa, mas tal como o seu cartaz, pretende chamar a atenção dos sócios, e deve ser assim que o devemos interpretar! Em relação ao seu projecto, tem boas ideias, que poderiam ser aproveitadas por futuras direcções. Digo isto, porque não acredito que Bruno Carvalho tenha a mínima hipótese, por causa do "estigma" de ser do Porto e director de um canal televisivo regional, além disso a sua arrogância e constante insistência na mudança de treinador, caso ganhe as eleições, tem vindo a fazer com que perca apoiantes. Apoiantes que só serão necessários se for mesmo a votos, porque ainda persiste a dúvida se a sua candidatura será aceite ou não. Caso não seja, preparem-se para nova novela!

Por fim, Carlos Quaresma! Sobre este senhor, não posso dizer muito mais do que o que já disse, visto não o conhecer, nem saber quais são as suas ideias e projecto. Veremos se desta vez consegue ir a votos, visto que ainda lhe faltavam algumas assinaturas para poder oficializar hoje a sua candidatura.

Até ver estes eram/são os candidatos a presidente do “Maior Clube do Mundo”, veremos se não aparece ninguém de surpresa hoje. O vencedor, na minha opinião, já está decidido, resta saber qual será a sua percentagem de votos. Mesmo assim, quero, e desejo que, os sócios decidam em consciência aquilo que pensam ser o melhor para o Benfica, para o bem de todos nós…

Agora apetece-me terminar com um Viva o Benfica… Para ser diferente!