O Benfica não vence o campeonato nacional de Juniores desde 2003/2004, numa equipa onde pontificavam nomes como Hélio Roque, Rui Nereu, João Coimbra, João Vilela ou Tiago Gomes. Tudo jogadores que, em maiores ou menores períodos de tempo, foram passando pelo plantel sénior, sem se conseguirem impor. Desta equipa, o único que se destacou e tem vindo a realizar uma carreira ao mais alto nível foi Manuel Fernandes que, todavia, subiu a meio da época aos seniores, o que certamente contribuiu para o salto qualitativo que deu em relação aos companheiros.
Neste caso a questão coloca-se: considerar-se-ia esta geração mais “vencedora” se, mesmo que não tivessem alcançado o título, proporcionassem mais 3 ou 4 jogadores de valia para os planteis seniores do Benfica?
Para tentar responder à pergunta pego noutro bom exemplo: a geração de 1989, sem dúvida uma das mais talentosas que passou pelo clube nos últimos anos. Contudo, esta “fornada” viu-se privada de três dos seus mais influentes jogadores (Miguel Vitor, Romeu Ribeiro e Ruben Lima) que foram emprestados ao Desportivo das Aves a meio da época, tendo essa decisão provavelmente hipotecado um eventual título de campeão nacional.
Mas a verdade é que os dividendos estão à vista e Miguel Vitor é, neste momento, titular no eixo da defesa ao lado dos seus ídolos de há bem pouco tempo e Romeu e Ruben são pedras influentes no Aves e regularmente chamados à selecção de sub-21. Por outro lado, Miguel Rosa e André Carvalhas, jogadores que terminaram a época nos juniores e, tantas vezes, levaram a equipa às costas, tiveram muito maior dificuldade na sua adaptação ao 1º ano de sénior, sendo que o primeiro se vai afirmando a pulso no Estoril e o segundo, provavelmente o mais talentoso jogador da sua idade em Portugal, vai somando minutos a fio no banco do Olhanense.
Este é um tema certamente controverso. É evidente que se pegarmos nos 5/6 melhores jogadores dos juniores e os emprestarmos a clubes da Liga Vitalis durante o seu último ano de formação estaremos a dar-lhes um incentivo enorme para o seu desenvolvimento futebolístico e a atenuar as naturais dificuldades de adaptação nos primeiros tempos de sénior. Mas, por outro lado, privar uma equipa dos seus melhores jogadores é abdicar de objectivos em termos de títulos para essa mesma época. E a maioria dos benfiquistas certamente que não aceitaria de bom grado um tremendo investimento no Caixa Futebol Campus e nos escalões de formação em geral para depois ver as nossas equipas constantemente afastadas da discussão dos campeonatos nacionais ou mesmo das fases finais.
A solução, assim sendo, deve passar sempre por um compromisso entre as duas vertentes. A formação de jogadores, tendo em vista a criação de mais-valias para a equipa de futebol profissional do Benfica, deve ser sempre o “goal” desta área. Contudo, num clube como o Benfica, a exigência deve ser máxima e a obrigação é a de apresentar equipas sempre competitivas e capazes de lutar pelo título.
Assim, será aceitável que se seleccione um ou dois jogadores que, durante o seu último ano de júnior, devido às suas características (possibilidade real de poder vir a fazer parte do plantel sénior, previsão de eventuais dificuldades de adaptação à transição para futebol profissional, possibilidade da sua posição ser colmatada nos juniores por um jogador com potencial que esteja “tapado”) sejam desde logo emprestados a um clube dos escalões inferiores onde tenham grandes possibilidades de jogar.
É óbvio que estas apostas irão sempre enfraquecer um pouco a equipa mas a solução deve sempre passar por procurar dentro do plantel, em jogadores do 1º ano ou juvenis excepcionalmente maduros, alternativas a essas saídas. Contratar estrangeiros de 2º ano que, além de serem bastante caros, necessitam de um certo período de adaptação e, no final de contas, acabam por nunca ter grandes possibilidades de vir a representar o Benfica é, na minha opinião, completamente contraproducente.
É exactamente nesse sentido que o planeamento da época e da eventual progressão dos jogadores deve ser feito atempadamente e, antes de tudo, tomar especial atenção às dispensas feitas na transição juvenil-júnior, efectuando apenas contratações no mercado de Inverno em situações excepcionais, dando preferência a jogadores de 1º ano e portugueses.
Tendo em conta o investimento feito nos últimos anos pelo Benfica nos escalões de formação, a construção de um centro de estágio ao nível dos melhores e as contingências financeiras dos clubes que, cada vez mais, se vêm na obrigação de apostar na “prata da casa”, a política de formação tende a assumir um papel crucial nos próximos tempos.
Assim, há que apostar na criação de equipas jovens competitivas, com prospecção dos melhores talentos nacionais (e alguns internacionais), potenciação das suas qualidades com técnicos com provas dadas na formação, optimização física e do rendimento através do L.O.R.D., protocolo de empréstimos com um grupo de clubes que seja acolhedor e adequado aos diferentes níveis de desenvolvimento dos jogadores e existência de uma equipa técnica sénior sensível ao lançamento de jovens valores e a sua integração (não apenas para fazer número) na equipa profissional do Benfica.
Tudo isto sem tentar perder os valores e a mística do Sport Lisboa e Benfica e assegurar que, sempre que as camisolas berrantes entram em campo, não existam desculpas para os empates ou a derrotas
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